Monthly Archives: Julho 2014

BRASÍLIA – O REFLEXO DA DEGRADAÇÃO DE UM ESTADO

44_big

Há dias que a atenção dos guineenses centraram-se em Brasília! Infelizmente não é para acompanhar o mundial de futebol que já terminou e, no qual, a Guiné-Bissau não chegou a ser representada.

Qualquer cidadão do mundo civilizado que toma conhecimento que os interesses dos guineenses estão centrados em Brasília, pensa logo que estará a decorrer nessa cidade algum evento desportivo ou cultural de grande importância, em que o nome da Guiné-Bissau poderá ser elevado ao nível dos melhores! Mas, infelizmente não! Mais uma vez, estamos a dar-nos a conhecer, pelos piores motivos! Isto, nada mais é, que o reflexo do estado de degradação em que se encontram o estado e a sociedade guineense.

Nessa historieta que envolve uma suposta embaixada, a embaixadora, o primeiro secretário da embaixada, dinheiro, família, insultos, ameaças e agressões, não me importa saber quem é o carrasco e quem é a vítima. Como guineense, preocupa-me sim o ponto a que chegou as nossas representações diplomáticas, que não são nada mais que o reflexo da degradação e o descontrolo a que foi submetido todo um país. Que imagem do nosso país insistimos em transmitir para o exterior!?

Lula vs Embaixadora

Somos um dos países mais pobres do mundo, mas também sempre conhecidos como um povo digno, honrado, fiel, amigo e, acima de tudo, hospitaleiro, humilde e trabalhador.

Desde cedo que os nossos pais nos ensinaram valores que vincam a importância da dignidade pessoal e da honra familiar, acima de quaisquer outros interesses, entre os quais os interesses financeiros. Mas, isso eram outros tempos! Tempos em que ainda havia uma ponta de dignidade em toda a sociedade guineense. Tempos em que os nossos pais, simples funcionários das várias instituições das nossas praças, trabalhavam de forma honrada e transmitiam esses vínculos morais à toda família, porque sabiam que eram exemplos e verdadeiros chefes da família. Aqueles chefes de família que chegavam ao fim do mês com o salário disponível, com os quais protegiam, alimentavam, vestiam e escolarizavam o resto da família. As nossas mães cuidavam do lar e de outros afazeres familiares, sempre orientadas pela “batuta” da dignidade e honra familiar.

Após Novembro de 1980 esses valores foram “corroendo e dissolvendo-se” entre nós, atingidos pela praga da progressiva desconfiguração e ausência do Estado e dos valores morais.

O estado guineense começou aos poucos a deixar de ser “entidade de bem”, para abrigar no seu seio muitos “abutres” que confundiam a responsabilidade de um cargo no aparelho do estado com a oportunidade de delapidar o cofre do estado, possibilidade de exibir sinais exteriores de riqueza e, dessa forma, coleccionar bens materiais, entre os quais as jovens mais cobiçadas da nossa praça, que chegam, ainda hoje, a serem exibidas nas coloridas viaturas, como se fossem troféus de caça!

As disfuncionais instituições estatais e muitos negócios privados de duvidosa idoneidade passaram a ser as únicas fontes de geração de riqueza para a sociedade guineense. Todo esse aparelho de esquemas e corrupção foi corroendo e dissolvendo os princípios e valores transmitidos pelos nossos pais e pelos nossos avós. A dignidade pessoal e a honra familiar foram hipotecadas por outros valores como a sobrevivência a qualquer preço, o exibicionismo e o protagonismo fácil…

Na sociedade guineense, transformada numa autêntica selva, onde o lema é salve-se quem puder, o desesperado chefe de família que não consegue adaptar-se atempadamente ao esquema de recolha fácil e rápido da riqueza do estado, não conseguirá sustentar condignamente a sua família, ficando portanto despejado de moral para garantir a transmissão dos valores que orientam a dignidade e a honra da sua família. Acaba ele também por resignar-se com a oportunidade de, pelo menos, uma das filhas conseguir ser amante ou “amiga de ocasião” de algum abastado ladrão e corrupto, que o vai garantindo mensalmente o saco de arroz e alguns outros bens para o carente lar.

Como consequência dessa degradação social, o facto que mais me arrepia e revolta, é a aceitação e aprovação social da pedofilia e da prostituição infantil e juvenil na Guiné-Bissau, bem representada na música “Sub-17” dos Tabanka-Djaz e na peça “Clara di sabura”.

47175661_resta

Aos predadores sexuais guineenses já não basta fornecerem algumas migalhas às suas “presas”, para irem satisfazendo os seus instintos mais básicos, como fazem questão que a presa seja menor de 17 anos! E estas, sabendo-se mais desejadas que as maiores de idade, lançam-se em actividades de autênticas prostitutas infantis, chegando a desfazer muitos lares que ainda resistiam à essa degradação moral…

Chegado a este momento, de certeza que o leitor deste texto está a interrogar sobre a relação entre as disfunções das nossas representações diplomáticas e a pedofilia ou a prostituição infantil tão ingénua e impunemente aceites e promovidas na sociedade guineense!

Respondo que é a mesma relação que os abusivos fiscais de trânsito têm com a participação da cúpula militar e alguns políticos no narcotráfico.

Confuso caro leitor? Eu explico!

O estado guineense como entidade pobre, incapaz de responder aos anseios do seu povo, permitiu pouco a pouco ser assaltado e dominado por incompetentes, incapazes, corruptos e corruptores. Consequentemente, foi ficando cada vez mais pobre. Quanto mais pobre foi ficando o estado, menos justiça foi sendo capaz de fazer. Quanto menos justiceiro for o estado, maior será o número de crimes e criminosos que vai albergando na sua sociedade e mesmo no aparelho do estado. Então, a única forma do estado minimizar o impacto social e o choque moral dessas actividades criminosas, é sendo permissivo e cúmplice das actividades ilícitas, o que vai atenuando o sofrimento da população, minimizando assim as revoltas populares…

Então, fecha-se os olhos ao ladrão inserido no aparelho do estado, que fecha os olhos à pedofilia e prostituição infantil, em que ele mesmo participa.

As autoridades judiciais e policiais fecham os olhos aos vários crimes, entre os quais a prostituição infantil e ao narcotráfico, na esperança de garantir o seu próprio sustento, enquanto o fiscal de trânsito procura motivos nas viaturas para levar algum para a casa…

Nessa quase total ausência da autoridade do estado e, usando do instinto de sobrevivência em condições mais condignas possíveis, as nossas representações diplomáticas não podiam fugir á regra.

As nossas representações diplomáticas foram tornando-se num meio seguro de “emigração legal”, através de nomeações duvidosas com base em critérios familiares, étnicos ou de compadrios, o que foi destruindo e banalizando aos poucos a denominada carreira diplomática…

Para compor as negociatas, com critérios desconhecidos, também foram sendo nomeados alguns estrangeiros para as nossas representações consulares honorárias, apenas por se denominarem “amigos da Guiné-Bissau”, com interesses na aquisição de passaportes diplomático guineense e inerentemente a imunidade diplomática com todas as regalias legais e comerciais que o título concede. Então, mal se consegue o título, as funções de cônsul honorário passa a ser o que menos importa, sendo rapidamente atirado para o segundo plano! Mas, como nada mais exigem do país, os cônsules honorários (“Djilas” com passaportes diplomáticos) vão se prolongando na falsa representação dos guineenses, enquanto vão engordando as contas bancárias, a custa das regalias que o título lhes confere.

O estado guineense, não conseguindo assegurar o devido financiamento para o adequado funcionamento das suas representações diplomáticas e consulares, vão mantendo-os abertos, apesar da consciência de serem meios ideais para a propagação da má imagem da Guiné-Bissau no exterior!

Os nossos representantes diplomáticos, abandonados ao seu destino pela ausência do estado como entidade de bem e, interessando-lhes manterem-se “emigrados” nos países de acolhimento, ao invés de irem “atravessar o deserto” para uma nova reabilitação em Bissau, rapidamente arranjam mecanismos de sobrevivência e de manutenção do funcionamento das embaixadas. Só que, a maioria desses mecanismo no mínimo roçam os meandros da ilegalidade, colocando o nome do país em muito maus lençóis, nos países acreditadores.

PASSAPORTES

Julgo que o que está a suceder na Embaixada da Guiné-Bissau em Brasília é transversal à maioria, se não a todas, representações diplomáticas da Guiné-Bissau. Uns vão tendo maior contenção em termos de exposição pública que outros, mas todos com os mesmos problemas e a mesma miséria!

A novela guineense com cariz diplomático, importado de Brasília, é apenas uma amostra do nível dos nossos diplomatas e das nossas representações consulares.

Quais instituições monárquicas, os filhos e sobrinhos seguem linhagens diplomáticas, chegando por vezes até a representarem os embaixadores em actos oficiais no país acreditador!

Algumas residências diplomáticas chegam a acomodar tudo o que é família! De filhos a pais, sogros, tios, primos, sobrinhos, vizinhos e até amigos, todos conseguem um aconchego nas residências diplomáticas guineense espalhados pelo mundo. Não digo que é a custa da Guiné-Bissau, já que o estado não cumpre com as suas obrigações financeiras, pelo menos de forma regular, mas a custa sim, da imagem e do bom nome da Guiné-Bissau.

Adidos das várias áreas, familiares de dirigentes e militares, nomeados por vezes a revelia dos próprios embaixadores, sendo que alguns nem chegam a exercer nenhuma função na própria embaixada, mas continuam a receber o ordenado (quando há) pelo cargo pelo qual foi nomeado…

Ameaças de agressões físicas, de inutilizações ou até de mortes através dos feitiços da terra, é uma realidade que se vai multiplicando pelas nossas embaixadas.

Em relação ao caso de Brasília em concreto, é inconcebível que um assunto do foro diplomático tenha evoluído para agressão física dentro da representação diplomática e depois transbordar para uma queixa junto das autoridades do estado acreditador e, ainda, o cúmulo dos cúmulos, ver-se publicado em órgãos não diplomáticos, as correspondências estritamente do foro diplomático e até contas da própria embaixada!

Só por isso, sou obrigado a concluir que esta gentalha não faz a mais pálida ideia do que é ser um representante diplomático ou funcionário de uma embaixada!

O nosso Primeiro-Ministro esteve bem ao dizer que Não podemos aceitar que entidades públicas representativas do poder político na Guiné-Bissau discutam as suas diferenças na praça pública utilizando os meios de comunicação social”.

Mas, não basta apenas condenar senhor Primeiro-Ministro! Tem de agir e com consequências sérias!

Governo

Sei que tem muito por onde começar e tem o trabalho quase equivalente a um super-homem, para conseguir a “normalização” e a moralização do país, a sua sociedade e as suas representações diplomáticas, mas em relação ás nossas representações diplomáticas, é necessário agir com alguma celeridade, para estancarmos a transmissão da má imagem que hoje já vamos sendo conhecidos “fora de portas”.

A moralização da sociedade guineense e das nossas representações diplomáticas tem de começar pela regularização das dívidas contraídas com os funcionários do estado.

Repare caro Primeiro-Ministro que digo “regularizar” e não “pagar ou liquidar as dívidas”! O Primeiro-Ministro sabe melhor do que eu que, se a Guiné-Bissau quiser sair do atoleiro em que esses anos de desmandos nos mergulharam, não pode dar-se ao luxo de pagar todas as dívidas internas e externas contraídas pelo país. Não há financiamento que chegasse e os nossos parceiros financiadores da nossa economia não cairiam nesse engodo…

Mas, assim como renegociamos e pedimos perdão pelas nossas dívidas externas, é urgente que os ministérios comecem a chamar os seus funcionários, entre os quais das representações diplomáticas, assumir perante eles as dívidas, a vontade de encerrar essas dívidas e renegociar os seus pagamentos, apelando ao espírito patriótico nesta fase da reorganização do país.

Se o fizer caro Primeiro-Ministro, ficará com uma enorme reserva moral para reorganizar os serviços do Estado, podendo dispensar muitos incompetentes e nomear os mais competentes.

Em vez de ministros virem condenar publicamente os agentes do estado pelas suas actividades ilícitas, com ordens de suspensão dessas actividades, primeiro têm de fazer o trabalho de casa, garantindo que o estado não está em dívida, nem que seja moral, para com esses agentes de estado e só depois condenar as actividades ilícitas por eles praticadas.

Só com essa reserva moral conseguirá governar o país com alguma autoridade caro Primeiro-Ministro.

Jorge Herbert

O PRESENTE E O FUTURO DA GUINÉ-BISSAU – LUZ AO FUNDO DO TÚNEL

Mais de 2 anos volvidos da alteração da ordem constitucional de 12 de Abril de 2012, a Guiné-Bissau volta à normalidade constitucional e ao conserto das nações com a realização das últimas eleições Legislativas e Presidências. De realçar o civismo e o sentido patriótico do povo com afluência em massa às mesas de voto tendo contribuído para que sejam as eleições com a maior taxa de participação na História da Guiné-Bissau (cerca de 90% na 1ª volta e cerca de 79% na 2ª volta das Presidenciais).
As eleições Presidenciais foram ganhas à 2ª volta (13 de Abril e 18 Maio 2014) pelo Dr. José Mário Vaz, Vulgo JOMAV, candidato do PAIGC com 61,9% contra o Eng.º Nuno Gomes Nabiam, candidato independente com 38,1%.
Nas Legislativas, o povo soberano escolheu o PAIGC, liderado pelo Eng.º Domingos Simões Pereira, vulgo Matchu para liderar a condução dos destinos do país nos próximos 4 anos, com maioria absoluta (57 em 102 Deputados), tendo o PRS confirmado o seu estatuto de 2ª maior força política do Pais com 41 deputados, sendo que em relação as ultimas eleições, os libertadores perderam 10 deputados e os renovadores quase que duplicaram os deputados. Essa bipolarização (96%) demonstra claramente que o povo exige um amplo consenso entre o PAIGC e o PRS (pactos de regime entre outras formas de acordo em matérias estruturantes para o futuro do País), devendo as respectivas lideranças materializar os anseios de todos guineenses, de partilhar um país próspero e desenvolvido.
Os deputados eleitos para a Assembleia Nacional Popular (ANP) tomaram posse no passado dia 17 de Junho, tendo sido confirmado o Eng.º Cipriano Cassamá (PAIGC) como 2ª figura do Estado. De realçar a eleição do Sr. Alberto Nambeia (Presidente de PRS) para uma das Vice-presidências.
O Dr. José Mário Vaz tomou posse no passado dia 23 de Junho como Presidente da República numa cerimónia que contou com a presença de cerca 10 chefes de Estado dos países da Sub-região (Benim, Burkina Fasso, Cabo Verde, Gâmbia, Gana, Guiné-Conacri, Níger, Nigéria, Senegal e Togo) entre outros representantes das organizações como CPLP, UA, CEDEAO, EU, e ainda outros diversos representantes diplomáticos, entre outras individualidades nacionais e estrangeiras). Um sinal de grande apoio e solidariedade.
Finalmente, o Presidente da República nomeou e empossou o líder do partido mais votado (PAIGC), Eng.º Domingos Simões Pereira como Primeiro-Ministro no dia 07 de Julho, tendo os restantes membros do Governo tomado posse no dia seguinte. Um elenco governamental composto por 16 Ministérios e 15 Secretarias de Estado (com a curiosidade de incluir o Secretário-Geral do PRS, Dr. Florentino Mendes Pereira).
No discurso de tomada de posse o novo Primeiro-Ministro prometeu “ordem, disciplina e trabalho” definindo as seguintes tarefas imediatas: a regularização dos salariais na função pública, restabelecimento do funcionamento das escolas públicas e dos hospitais e garantia de fornecimento de água e electricidade. Dito isso, agora mãos à obra (mãos na lama nas palavras do nosso Presidente da República) e que tenham sorte no desempenho das vossas funções. Já não há desculpas, até porque, como um dia disse alguém, as desculpas são mentiras que nós contamos a nós próprios, para evitar fazer qualquer coisa na vida. Não se pretende que o Governo ande a distribuir bens ou serviços a todos os cidadãos. Quer se sim, que se criem condições para a criação da riqueza e do emprego, facilitando, e incentivando a iniciativa privada, fomentando o empreendedorismo, garantir o fornecimento de serviços básicos, tais como água potável e luz eléctrica, entre outros bens.

Governo

A MINHA OPINIÃO SOBRE A ORGÂNICA DO GOVERNO

Muito se tem falado sobre os nomes dos Ministros e Secretários de Estado do Governo liderado pelo Eng.º DSP. Eu não gosto de emitir opiniões sobre os nomes, pois podemos cair no erro de fazer julgamentos baseados em factos subjectivos, que em nada contribuem para criar um ambiente de calma e serenidade, de que o pais mais precisa. As palavras de ordem neste momento são: conjugação/união de esforços tendentes a tirar a Guiné-Bissau do “atoleiro” e da “letargia” em que se encontra. Ademais, o bom senso exige que se dê sempre o benefício de dúvida. Reconhece-se qualidades e potencialidades (técnicas, humanas, politicas e factor juventude) ao nosso Primeiro-Ministro e demais/alguns membros deste novo Governo. No entanto, resta saber se teremos equipa capaz de levar avante esta árdua tarefa, que exige muito trabalho de equipa.
Vou limitar-me a opinar sobre a estruturação orgânica do actual governo:
1 – Concordo com a junção do Ministério do Interior e Administração Territorial num único Ministério, o da Administração Interna;
2 – Concordo com a existência dos Ministérios de Mulher, Família e Coesão Social, e da Função Pública e Reforma Administrativa (importantes na presente conjuntura). De realçar a presença de 6 mulheres, representando cerca de 20% do total do executivo), o que não sendo bom de todo, é bastante positivo, se comparamos com a diminuição da representatividade feminina na casa da democracia (ANP).
3 – Não concordo (ainda que respeite) com a existência do Ministério da Comunicação Social, (bastava uma Secretaria de Estado na dependência do Primeiro-Ministro) e as razões são óbvias – “inexistência”/”falta” de stakeholders significativos, entre outras razões (ainda que valorize os meios de comunicação social existentes no país);
4 – Discordo (ainda que respeite) da existência dos Ministérios de Recursos Naturais e da Energia e Industria (preferia a junção dos 2) ou em alternativas a estas 3 áreas (e o Comércio e Artesanato) juntas no Ministério da Economia. Resultando daí que não concordo (ainda que respeite) com a existência do Ministério de Comércio e Artesanato. Nunca concordei (ainda que respeite) com a junção de Economia e Finanças, continuo a discordar, e assim, só o tempo fará justiça. Vaticino até num futuro não muito distante, a separação deste Superministério. Não está em causa as qualidades do titular da pasta!

Uma das experiências de junção de Economia e Finanças (Dr. Joaquim Pina Moura) realizadas em Portugal, não correu muito bem, inclusive, o próprio Eng.º António Guterres (PS) admitiu o erro. Pode não ser o caso da Guiné-Bissau. Angola, Moçambique, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe (estes 2 últimos com a junção de Finanças e Plano), de acordo com as respectivas especificidades, têm as 2 áreas separadas. Dir-me-ão, então mas o nosso vizinho Senegal tem a junção das 2+1 pastas, denominado Finanças, Economia e Plano, liderado pelo “todo-poderoso” Dr. Amadou Ba! Pois … mas há um pormenor (maior) que pode fazer toda a diferença: é que há um Ministro-Delegado (uma espécie de Vice-Ministro) só para os Assuntos Orçamentais, (pelo menos assim foi no Governo da Sra. Aminata Touré e assim será no Governo do Sr. Mahammed Abdallah Dionne, ontem nomeado e que reconduziu o anterior titular e manteve a mesma denominação). De qualquer maneira, esperemos para ver as Leis Orgânicas dos Ministérios, para podermos ter uma ideia global do novo Governo, pois mais importante de tudo, é a dinâmica do funcionamento do Governo. O resto, o tempo encarregar-se-á de esclarecer.
As minhas 3 Preocupações:
1 – A situação interna dos 2 principais partidos da Guiné-Bissau (PAIGC e PRS). Urge acalmar as hostes e apostar na reconciliação interna, para o bem de todos, quiçá mesmo a realização de um congresso extraordinário/estados gerais. Estes partidos são estruturantes da nossa sociedade (sem menosprezo da importância das outras formações politicas);
2 – A saída do Dr. Ramos-Horta causa me alguma preocupação e angústia. Não quero com isso pôr em causa a capacidade/credibilidade do novo representante da ONU na Guiné-Bissau, o brasileiro Marco Carmignani. Mas temos de reconhecer que, se chegamos ao ponto de estarmos hoje em paz e em tranquilidade, é graças, em grande parte, à actuação e a capacidade de mobilização do Dr. Ramos-Horta, que foi incansável e paciente, que ouviu tudo e de todos, falou com todos, fez muitas diligências e contactos junto da comunidade internacional, para que os problemas da Guiné-Bissau não caíssem no esquecimento. Houve falhas como em qualquer processo, mas não podem beliscar a sua actuação, em prol do bem da pátria de Amílcar Cabral;
3 – O Abate de árvores/exploração desenfreada de recursos naturais e haliêuticos. Espero que este assunto não seja esquecido ou simplesmente ignorado. (Aliás, foram enfatizados pelo Primeiro-Ministro e pelo Presidente da República nos seus respectivos discursos de tomadas de posse). Urge estancar essa hemorragia e pôr cobro a delapidação dos nossos recursos.
Algumas palavras a:
1 – Timor Leste e ao seu povo, cujos o Presidente da República e o Primeiro-Ministro (Taur Matan Ruak e Xanana Gusmão), não abandonaram o barco no momento difícil, e ainda ajudaram e contribuíram para a materialização das eleições e o consequente retorno à normalidade constitucional. Podemos citar o apoio em diversas áreas, nomeadamente na área do desporto, com o financiamento da selecção nacional, que permitiu a nossa qualificação para a fase seguinte da CAN. Muito têm ajudado o povo da Guiné-Bissau. Que Deus abençoe o povo de Timor Lorosae.
2 – CPLP, exige-se mais acção e a materialização da cidadania Lusófona, no sentido da maior “integração” e solidariedade entre a comunidade Lusófona. O “caso” da Guiné-Bissau, de Moçambique, alguns episódios de violação de Direitos Humanos em Angola, entre outras questões, são os grandes desafios para os próximos tempos (voltarei a este assunto mais tarde – eu que sempre fui e sempre serei defensor da Lusofonia). Em todo caso, creio que já há consciência dos enormes desafios para a comunidade.
3 – CEDEAO, exige-se atitude proactiva na defesa da democracia e do Estado de Direito nos países da comunidade. Exige-se também TOLERANCIA ZERO a qualquer alteração de ordem constitucional, que não seja por vias legais e democráticas. Por outro lado, pretende-se uma maior integração dentro do espaço e a diminuição das enormes assimetrias. Mesmo assim, o esforço empreendido na resolução dos conflitos do Mali e da Guiné-Bissau, devem ser louvados. Voltarei a este assunto mais tarde.
4 – Povo sofredor da Guiné-Bissau, tenho a dizer:

DJARAMA/OBRIGADO, E QUE TENHA ESPERANÇA, OS MELHORES DIAS VIRÃO.

 

Eduardo Djaló (Bailó)

APESAR DOS PESARES…

Tenho ouvido e lido comentários de todos os tipos sobre o elenco que vai governar a Guiné-Bissau nos próximos quatro anos! Para mim, grande parte dos comentários revelam a fasquia da esperança popular, onde cada guineense colocou o seu voto nas eleições legislativas.

Como já disse no meu anterior artigo, o povo votou com muita ânsia de romper com o passado e muita sede de renovação da classe política, responsável pelas quatro décadas do retrocesso do nosso país.

Acredito que os líderes agora eleitos (JOMAV e DSP) também sentiram o pulsar da vontade popular e anseiam corresponder às expectativas não só dos guineenses, mas também da comunidade internacional.

Para mim, ter DSP no comando do complicado e problemático navio que é a Guiné-Bissau, já me dá algum alento, alguma segurança e aumenta a minha esperança para os próximos quatro anos.

Mas, não podemos esquecer que, quer o nosso actual Primeiro-Ministro, quer o nosso Presidente da República, apesar de serem “sangue nobo” com sentido patriótico e vontade de trabalhar para mudar o estado das coisas no país, precisaram do apoio de uma máquina partidária velha, gasta, emperrada, letárgica e cheia de vícios de forma.

Logo após a conquista da liderança do partido pelo DSP que alertei no artigo “DSP e as víboras no seu ninho”, pelas dificuldades que ele viria a ter como primeiro-ministro eleito, na escolha da sua equipa governamental e na gestão dessa mesma equipa.
(Ver aqui: http://simintera.com/2014/02/17/dsp-e-as-viboras-no-seu-ninho/)

Neste momento, é uma tarefa quase impossível ganhar as eleições na Guiné-Bissau, sem o apoio das duas grandes (no tamanho e não na eficácia governativa) e principais formações partidárias. Apenas a título de exemplo, o candidato presidencial Paulo Gomes que o diga!

DSP e JOMAV precisaram dessa máquina partidária para chegarem aos mais altos cargos da nação. Por isso, não vai ser fácil renovar o partido e livrar-se dos vícios da caducidade e letargia dessa mesma máquina, muito mais quando simultaneamente é necessário um grande empenho para se conseguir uma boa governação! Conforme disse o próprio DSP, o relógio da governação já começou a correr contra ele e precisa ser muito eficaz e eficiente para conseguir cumprir com os objetivos da tarefa hercúlea em que se engajou.

Apesar dos pesares, apercebe-se que DSP conseguiu cumprir com grande parte dos seus objectivos na formação deste novo governo!

É claro que há nomes nesta equipa governamental, com que a maioria da população guineense que votou PAIGC nas eleições legislativas não pode nem deve concordar. E DSP sabe que dentro de quatro anos terá que pedir nova confiança aos eleitores, para poder finalizar o seu projecto agora iniciado. Uma legislatura não chegará para que este governo concretize os anseios do povo, por mais boa vontade e empenho que tiverem…

Apesar dos pesares, confio nas capacidades do DSP.

Apesar dos pesares, a Guiné-Bissau e o seu primeiro-ministro merecem o apoio e o engajamento de todos os guineenses nesta grande causa, que é como se fosse a nossa segunda independência.

NOVO GOVERNO DA GUINÉ-BISSAU

Há muito que a Guiné-Bissau se encontra atolada no lamaçal e, sempre que começava a dar sinais de querer sair do atoleiro, surgiam sempre os “kumbas” habituados a viverem no lamaçal, para impedir esse progresso e nos fazerem retroceder para mergulhar de novo no lodaçal. O povo guineense assistia impávido e acomodava-se, enquanto o mundo “assobiava para o lado” e pensavam: “esses macacos nunca se vão entender”!

O injustificado golpe de estado de 12 de Abril de 2012, a inflexível reacção diplomática internacional e o calamitoso período de transição, fez nascer nos guineenses um sentimento de revolta e exaltação do sentimento patriótico, com consequente rejeição de tudo o que possa representar a manutenção do país no lodaçal em que se encontra, apenas para o gaudio de uns poucos djintons.

O retorno à ordem constitucional na Guiné-Bissau deve ser sentido pelos guineenses como passageiros de um barco em naufrágio que acabaram finalmente de pisar a terra firme numa ilha quase deserta, que é de certeza a forma como os transicionistas deixaram o país e as contas públicas, um autêntico deserto…

Conseguimos salvar-nos do naufrágio, mas a dura realidade vai continuar se nada fizermos para a mudar. É preciso arregaçar as mangas para abrir caminhos à procura de uma sobrevivência condigna. Não podemos agora sentar e ficar a espera que o novo “capitão” nos conduza para um futuro melhor.

É com esse sentimento que julgo que todos os guineenses devem engajar-se na causa nacional, a partir deste momento. Não podemos apenas confiar nos eleitos e esperar que eles trabalhem para o nosso bem-estar! Cada um que quer e sente-se capaz de contribuir para os desígnios nacional, deve submeter as suas capacidades e possível contribuição à apreciação da equipa que nos vai governar e esperar a atribuição de funções. Cada um deve envolver-se e empenhar-se diariamente nas tarefas que lhe serão incumbidas a partir de agora, para demonstrar competência, melhorar a sua própria vida e consequentemente contribuir para a melhoria do país.

Acho positivo o apelo feito por JOMAV, na tomada de posse presidencial. Quem estiver sem emprego ou com emprego precário e a sofrer na terra dos outros, que volte e coloque as suas competências ao serviço da sua pátria, que de certeza que será mais feliz.

Mas, não podemos esperar que todos os quadros guineenses cheguem a ser ministros, secretários de estado ou directores gerais! O caminho faz-se caminhando e é de baixo, dos alicerces, que se começa a construir uma casa. Mais vale começar a contribuir e demonstrar competência nas tarefas de base, do que começar logo por ser um alto dirigente incompetente.

Há uma máquina e toda a dinâmica partidária eleitoralista a respeitar, mas a própria dinâmica da afirmação do país fará com que os incompetentes que hoje ocupam esses altos cargos a custa da fidelidade partidária, venham a sentir-se humilhados pelas suas próprias incapacidades e incúrias e serem facilmente identificados pelo povo e pelos parceiros que nos apoiam nessa caminhada rumo ao desenvolvimento.

Contrariamente, os competentes serão também identificados e chamados a desempenhar funções equivalentes às suas competências.

Apesar dos pesares, olho com positividade para este elenco governamental.

Apesar dos pesares, agrada-me ver novos nomes nos cargos ministeriais e notar a ausência de alguma velha guarda letárgica e sugadora do erário público. Olhando para o elenco governamental, nota-se a preocupação de DSP em priorizar a competência…

Apesar dos apesares, agrada-me a representatividade do género feminino neste elenco governamental.

Apesar dos pesares e, apesar de não conhecer as suas capacidades e competências, agrada-me ver a Dra. Cadi Mané, uma mulher a frente da defesa nacional. Agrada-me ver o instinto estrogénico no meio de tanta androgenia!

Apesar dos pesares, agrada-me observar a representação da pluralidade partidária, independentemente da representação desses partidos na ANP.

Apesar dos pesares, agrada-me ver a determinação e a garra da Dra. Carmelita Pires na pasta da justiça. Determinação e empenho necessários para se alcançar a almejada justiça capaz e independente que a Guiné-Bissau tanto precisa. Perante essa escolha, digo que, ainda bem que DSP não concordou com a minha sugestão de que deveria ser uma das pastas que o PAIGC não devia ceder aos outros partidos…

Apesar dos pesares, agrada-me ver a Dra. Odete Semedo na Educação Nacional. Para educar o país, essencialmente aos nossos jovens, nada como aliar a sensibilidade feminina, o espirito maternal e a competência. Julgo que a Dra. Odete Semedo saberá zelar para o renascer da esperança para os nossos jovens.

Apesar dos pesares, agrada-me ver a quase unanimidade dos guineenses, em volta da nomeação do Dr. Geraldo Martins para o cargo de Economia e Finanças.

Para não ser injusto com outros competentes e não hostilizar precocemente a alguns incapazes e incompetentes já conhecidos da nossa praça, que entraram neste quadro governamental pela “porta do cavalo”, não vou alongar-me na pessoalização do meu agrado com mais governantes.

Termino apenas a reforçar que, apesar dos pesares, confio na capacidade do nosso Primeiro-Ministro.

Aos governantes que agora serão empossados, não darei os meus parabéns, como tenho visto por aí muitos guineenses a fazer. Mas, vou desejar-lhes tão só muita sorte e pedir-lhes muito empenho nesta nova e nobre tarefa que agora assumem. A hora não é de congratulações, mas sim de arregaçar as mangas e demonstrar que merecem terem sido escolhidos.

 

Jorge Herbert